Olá, Psi! Neste texto daremos continuidade a nossa discussão dos cinco principais desafios no atendimento a pessoas com quadro depressivo. Hoje conversaremos sobre os estressores ambientais e como podemos ajudar o nosso paciente a lidar de maneira mais funcional e assertiva.
Recapitulando: No primeiro texto falamos a respeito da motivação e no segundo a relação com a família.
Então, vamos lá!
O Que São Estressores Ambientais?
Estressores ambientais são situações cotidianas desafiadoras que o paciente enfrenta, como por exemplo:
- Desemprego;
- Conflito familiar;
- Crise no casamento;
- Dificuldades financeiras;
- Cuidar de um ente querido enfermo;
- Dentre outros…
Tais estressores, tem o poder de gerar uma carga adicional sobre as emoções negativas que ele sente.
Como já conversamos em outros textos, a depressão é uma doença que atinge diretamente o humor da pessoa, ou seja, seu estado de ânimo, energia e motivação para execução de suas atividades, até mesmo as mais corriqueiras.
Sendo assim, o paciente apresenta uma visão mais negativa a respeito da sua capacidade e força para lidar com as situações que lhe são comuns.
Além disso, ao se deparar com aquelas que são desafiadoras, a visão de que é impossível dar conta delas se torna esmagadora, em especial no quadro grave, aumentando assim o sentimento de angústia e abrindo espaço para a desesperança.
É muito comum ouvirmos dele no consultório as seguintes falas:
“O que antes estava ruim e pesado, agora está insuportável”;
“Na minha vida só acontecem coisas ruins”;
“Eu não estou conseguindo fazer direito nem o que é pra fazer, quanto mais isso agora! Não sei se vou dar conta”.
Portanto, nosso papel é auxiliar o paciente a desenvolver estratégias e habilidades de enfrentamento para lidar com esses agentes estressores.
Nesse caso, utilizaremos técnicas cognitivas e comportamentais com um objetivo muito claro: a reestruturação cognitiva.
Por que A Reestruturação Cognitiva É Importante?
Porque a crença central em que se ancora a depressão é justamente ver a si como incapaz e sem valor.
Dessa forma, diante das adversidades, essa crença ganha força e aumenta seu poder de impacto na vida do paciente.
Portanto, caberá a nós enquanto terapeutas, fortalecermos o senso de enfrentamento e capacidade.
Nesse caso, você deve avaliar por onde vai começar a intervenção – se pela parte cognitiva ou pela comportamental.
Essa escolha vai depender do estado de energia e nível de gravidade do quadro.
De modo que, quanto mais grave, mais técnicas comportamentais serão necessárias e a medida que vamos nos aproximando de um quadro leve, podemos utilizar mais técnicas cognitivas (o por que dessa estratégia falaremos em um outro texto – ok?).
Sendo assim, vou trazer algumas ferramentas que podem contribuir para isso:
1. Análise do Problema Gerado Pelo Estressor
O primeiro passo é avaliar junto ao paciente o estressor em si, ou seja:
- investigar qual é o problema;
- as coisas e pessoas que estão envolvidas nele;
- o nível de gravidade;
- e também, o nível de responsabilidade do paciente diante disso.
Vamos supor que a questão seja realmente mais desafiadora, como o adoecimento de um ente querido.
Nesse caso, o seu papel então é saber:
- quem é esse ente querido;
- qual a gravidade da doença;
- os recursos que estão disponíveis;
- as pessoas envolvidas;
- e qual contribuição o paciente pode dar nesse sentido.
Muitas vezes, ele se foca na ideia que para ajudar, ele tem que estar diretamente cuidando da pessoa ou a sustentando financeiramente.
Portanto, vamos construindo com ele a ideia do que ele possui de recursos e energia nesse momento que já seriam uma boa contribuição.
O que pode ser:
- enviar uma mensagem;
- ligar para saber como está;
- ficar com os filhos da pessoa enquanto ela se recupera;
- rezar/orar (caso isso esteja no sistema de crenças e valores dele);
- dentre outras coisas.
Esse levantamento é individual e cada paciente vai trazer suas possibilidades.
O importante é você enquanto terapeuta ajudá-lo a ver o que está acontecendo, com uma visão mais voltada para a solução do que para o problema em si.
Como o paciente depressivo tende a ruminar, é comum que ele se sinta preso numa teia de pensamentos cada vez mais negativos e que vão minando ainda mais seu estado de energia e capacidade de enfrentamento.
Certamente, isso abre porta para uma outra intervenção: Histórico De Capacidades – Pote De Conquistas
2. Histórico de Capacidades – Pote de Conquistas
Essa ferramenta nada mais é que:
Ajudar o paciente a reconhecer seu histórico de conquistas.
De modo que faça com que ele perceba que já enfrentou desafios anteriores, os quais muitas vezes duvidou de sua capacidade do mesmo jeito que agora, mas que conseguiu sobreviver ou vencer as adversidades que surgiram em seu caminho.
Uma técnica simples, mas bastante efetiva que ajuda a construir esse senso de capacidade é o Pote de Conquistas:
Você cria um pote para o paciente e entrega e ele. Um pote mesmo, de verdade.
Neste pote, vocês colocarão papéis como se fossem post-its de todas as conquistas que ele teve ao longo da vida – não importa se são consideradas grandes ou pequenas.
Com isso, você irá resgatar com ele as memórias mais funcionais, coisas de que ele foi capaz de fazer, como:
- se formar no ensino médio;
- entrar na faculdade;
- cuidar do irmão mais novo para que os pais pudessem trabalhar;
- superar outros quadros depressivos;
- ter amigos;
- se tornar uma pessoa confiável…
E além disso, também colocar as conquistas atuais – tudo o que ele tem conquistado com a terapia:
- enfrentar os pensamentos automáticos;
- falar melhor o que sente para as pessoas;
- compreender suas emoções;
- ter mais organização e autoestima, etc.
Portanto, a ideia então é não perder nada!
E no momento que tais pensamentos de incapacidade virem, esse pote é aberto e o paciente lê de novo o que realizou de positivo para si e/ou para os outros.
Contudo, as vezes você terá que incentivá-lo a se recordar.
Porque é muito comum ao fazer a pergunta das conquistas o paciente dizer:
“Nunca fiz nada de importante.”
Mas tudo que ele faz de um modo ou de outro importa sim, incluindo se abrir a ajuda terapêutica.
Habilidades Adicionais
Além de auxiliar o paciente a avaliar a situação em que se encontra de maneira objetiva e focada em solução, e de potencializar seu senso de capacidade, outra habilidade que é muito importante e geralmente escassa nos pacientes que estão enfrentando um quadro depressivo é:
ASSERTIVIDADE!
Uma das grandes angústias que lido no consultório é o paciente não se sentir acolhido e aceito em suas limitações e estado de ânimo.
O que muitas vezes tem reforçadores verdadeiros no ambiente, como por exemplo:
A família e amigos que as vezes, na tentativa de ajudar, adotam uma postura que é vista como uma crítica aberta ou velada ao paciente.
Isso acaba o tornando ainda mais recluso em suas emoções e frente as relações sociais.
Sendo assim, é muito importante estabelecer uma conexão do paciente com uma rede de apoio que o fortaleça e auxilie frente as suas dificuldades em lidar com os estressores ambientais.
E para isso, desenvolver a capacidade de se comunicar mais assertivamente é fundamental.
Como Auxiliar O Paciente A Ser Mais Assertivo
Primeiramente, ajudamos o paciente a analisar como se sente, seus temores e incômodos.
Depois, elencamos junto a ele a(s) pessoa(s) com a(s) qual(is) tinha uma relação de confiança, que lhe dava um suporte antes mesmo do quadro depressivo e que continuam demonstrando o mesmo interesse.
Uma vez feito isso, iniciamos um treinamento da sua comunicação:
- Avaliamos e questionamos os pensamentos automáticos disfuncionais que o levam a crer de que nada irá mudar ou que será severamente repreendido ou visto como um estorvo;
- Além disso, realizamos um role-play – um “teatro” onde ensaiamos juntos modos produtivos de expressão das emoções e dificuldades com outras pessoas do seu cotidiano.
Por Que Ser Mais Assertivo É Importante Para Lidar Com Os Estressores?
Porque contribuirá para o paciente ter um suporte mais sólido que o permita a lidar melhor com os estressores.
Costumo dizer para meus pacientes que é muito mais fácil carregar um sofá com a ajuda de alguém do que sozinho.
Certamente, ter esse suporte trará para ele uma ajuda adicional que pode ser o contraponto necessário para mantê-lo motivado e focado em resolver os problemas.
Portanto, fique atento a esses eventos para além do que está presente de sintomas em si da depressão.
O ambiente, apesar de não ser o único determinante, é um fator importante de desenvolvimento e manutenção do quadro depressivo ou mesmo de alguns sintomas mais agudos.
Por isso, se atentar e auxiliar o paciente no trato desses estressores ambientais é muito importante para a evolução do tratamento.
Então, mãos a obra!
Este foi o terceiro artigo da série de cinco artigos que estou escrevendo sobre os Desafios da Depressão que vejo bastante dentro do consultório.
Tenho certeza que irá te ajudar de alguma maneira.
Se esse foi o caso, me conte nos comentários o que achou e compartilhe nas redes sociais para que mais colegas psis possam ver e quem sabe serem ajudados nesse assunto sobre os estressores ambientais.
E caso você ainda não tenha lido os dois textos anteriores, fica aqui novamente o convite, links abaixo:
DESAFIOS DA DEPRESSÃO #1: COMO MOTIVAR O PACIENTE DEPRESSIVO
DESAFIOS DA DEPRESSÃO #2: ENGAJANDO A FAMÍLIA DO PACIENTE DEPRIMIDO
Um grande abraço, muito sucesso em seus atendimentos e até o próximo texto! 😉
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